segunda-feira, 16 de julho de 2007

Medo da Libertação.

Paysage aux Oiseaux Jaunes (Klee, 1923)


Se eu me demorar demais olhando Paysage aux Oiseaux Jaunes (Paisagens com Pássaros Amarelos, de Klee), nunca mais poderei voltar atrás. Coragem e covardia são um jogo que se joga a cada instante. Assusta a visão talvez irremediável e que talvez seja a da liberdade. O hábito que temos de olhar através das grades da prisão, o conforto que trás segurar com as duas mãos as barras frias de ferro. A covardia nos mata. Pois há aqueles para os quais a prisão é a segurança, as barras um apoio para as mãos. Então reconheço que há poucos homens livres. Olho de novo a paisagem e de novo reconheço que covardia e liberdade estiveram em jogo. A burguesia total cai aos se olhar Paysage aux Oiseaux Jaunes. Minha coragem, inteiramente possível, me amedronta. Começo até a pensar que entre os loucos há os que não são loucos. E que a possibilidade, a que é verdadeiramente, não é pra ser explicada a um burguês quadrado. E à medida que a pessoa quiser explicar se enreda em palavras, poderá perder a coragem, estará perdendo a liberdade. Les Oiseaux Jaunes não pede sequer que o entenda: esse grau é ainda mais liberdade: não ter medo que não ser compreendido. Olhando a extrema beleza dos pássaros amarelos calculo o que seria se eu perdesse totalmente o medo. O conforto da prisão burguesa tantas vezes me bate no rosto. E, antes de aprender a ser livre, eu agüentava – só para não ser livre.
LISPECTOR, Clarice (A Descoberta do Mundo).

3 comentários:

Anônimo disse...

Maravilhoso seu espaço.....ou melhor o espaço que você criou pra Ela.
Esse texto mudou minha vida:aprendi a ser livre!
Vou voltar sempre

Anônimo disse...

Querida amiga que bom tê-la novamente entre nós, estou muito feliz sabendo que vc está bem melhor, senti sua falta.
Muito linda sua homenagem a essa grande mulher gosto muito dela e de Cecília Meireles.Vou vir sempre amiga sabe que te gosto muito e sei que tudo que fazes é belo.Um beijo em seu coração.
Ah, meu novo endereço agora é esse tá?
Um lindo domingo e fique com Deus.

Anônimo disse...

clarice apenas foi cincera, e nisso conciste o brilho de sua obra, ela disse aquilo que nao consequimos dizer e isso nos
encanta, comove, atrai.

18 janiro de 2008.