sábado, 12 de novembro de 2016

Ela acreditava em Anjos







Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
Todas as noites, ao dormir, ela costumava se concentrar e imaginar milhões de situações que a faria feliz. Imaginava o dia em que se apaixonaria de verdade, o dia em que moraria sozinha, pensava no que seria quando crescesse... Enfim, ela fazia muitos planos para o futuro.
Nestas mesmas noites, ela agradecia à Deus por está em sua cama, confortável e quente. E pedia a Ele que iluminasse a todos. Sua fé era tanta que tinha bastante esperança em suas palavras próprias e no seu pensamento. Talvez, por este ser o único modo de confiar que algo melhor sempre podesse acontecer.
Esta pequena e grandiosa menina desenhava em sua mente detalhadamente tudo como desejava que as coisas fossem. No fundo, ela sabia que nada era como ela queria. Ainda assim, não se cansava de imaginar sempre.
Certa vez, ela chegou à conclusão de que precisaria de asas para voar como os pássaros. Animou-se bastante com a idéia. E com lápis e papel começou a traçar os primeiros traços de suas asas. Aos poucos, foi surgindo e se transformando numa bela asa.
Quando percebeu que criara suas próprias asas, ela pôs a sorrir como nunca antes feito. Decidiu que primeiro conheceria o céu, pois ela sempre o admirava de sua janela e adorava suas cores no pôr-do-sol.
Preparada para o seu primeiro vôo, ela chegou perto da janela. Estava um pouco insegura ainda. Iria se concretizar nas linhas de sua vida, sua experiência mais fascinante. Nervosa, colocou os pesinhos bem próximos da linha do horizonte. E num suspiro, que lhe deu força e coragem, atirou-se na eternidade.
Sim. Sim, ela estava voando. Tudo era maravilhoso, o céu, as nuvens, as cores, os pássaros... Voou bastantes por entre nuvens, que atravessavam seu corpo. Descobriu neste vôo que o céu é a imaterialidade da matéria. E que sua aparente forma, na verdade não existia. Era o melhor de todas as coisas; fundidas num só. Descobriu que os pensamentos ruins eram mais pesados do que qualquer corpo. E que com eles, ela não poderia voar, pois ia acabar caindo no chão, como acontece com todos aqueles que não têm espírito leve e pensamento livre e positivo.
Sua maior diferença com o resto da multidão era acreditar em anjos. Ela acreditava que os anjos estavam espalhados pelo mundo, disfarçados, sempre disfarçados.
Voando ainda, ela finalmente conseguiu os ver. Eles eram bonitos e leves; leves como o ar. Eles a olhavam com um olhar de ternura. Como quem encontra uma pessoa amada. Ela se sentia muito bem entre eles. E desejou muito para sempre está perto deles.
Ela voou tanto, que se passaram dias, meses, anos; sem que percebesse. Realmente, ela estava imersa na eternidade e viva como uma luz que jamais se apaga. Estava na eternidade porque foi de lá que veio. A eternidade é sua terra natal e os anjos eram apenas seus melhores amigos.
Desenhando com traços delicados e finos, passou a desenhar sobre as vidas de algumas vidas. Ela melhora um detalhe ou outro. E sempre traçando linhas das quais as pessoas tinham fé, e com a fé de cada um ela tornava realidade. Na verdade, esta menininha era somente uma meio para tal. Já que a fé de cada pessoa é o mais importante para tornar muitos pensamentos em realidade.
Aos poucos, percebeu que sua vida era fazer aquilo que havia fazendo há alguns dias, meses e anos. Traçando linhas e desenhando pensamentos com pontos de fuga para o infinito. Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.* No fundo, acreditava ser um deles, e realmente era.


*Clarice Lispector. A Hora da Estrela.

Ela acreditava em Anjos




Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.
Todas as noites, ao dormir, ela costumava se concentrar e imaginar milhões de situações que a faria feliz. Imaginava o dia em que se apaixonaria de verdade, o dia em que moraria sozinha, pensava no que seria quando crescesse... Enfim, ela fazia muitos planos para o futuro.
Nestas mesmas noites, ela agradecia à Deus por está em sua cama, confortável e quente. E pedia a Ele que iluminasse a todos. Sua fé era tanta que tinha bastante esperança em suas palavras próprias e no seu pensamento. Talvez, por este ser o único modo de confiar que algo melhor sempre podesse acontecer.
Esta pequena e grandiosa menina desenhava em sua mente detalhadamente tudo como desejava que as coisas fossem. No fundo, ela sabia que nada era como ela queria. Ainda assim, não se cansava de imaginar sempre.
Certa vez, ela chegou à conclusão de que precisaria de asas para voar como os pássaros. Animou-se bastante com a idéia. E com lápis e papel começou a traçar os primeiros traços de suas asas. Aos poucos, foi surgindo e se transformando numa bela asa.
Quando percebeu que criara suas próprias asas, ela pôs a sorrir como nunca antes feito. Decidiu que primeiro conheceria o céu, pois ela sempre o admirava de sua janela e adorava suas cores no pôr-do-sol.
Preparada para o seu primeiro vôo, ela chegou perto da janela. Estava um pouco insegura ainda. Iria se concretizar nas linhas de sua vida, sua experiência mais fascinante. Nervosa, colocou os pesinhos bem próximos da linha do horizonte. E num suspiro, que lhe deu força e coragem, atirou-se na eternidade.
Sim. Sim, ela estava voando. Tudo era maravilhoso, o céu, as nuvens, as cores, os pássaros... Voou bastantes por entre nuvens, que atravessavam seu corpo. Descobriu neste vôo que o céu é a imaterialidade da matéria. E que sua aparente forma, na verdade não existia. Era o melhor de todas as coisas; fundidas num só. Descobriu que os pensamentos ruins eram mais pesados do que qualquer corpo. E que com eles, ela não poderia voar, pois ia acabar caindo no chão, como acontece com todos aqueles que não têm espírito leve e pensamento livre e positivo.
Sua maior diferença com o resto da multidão era acreditar em anjos. Ela acreditava que os anjos estavam espalhados pelo mundo, disfarçados, sempre disfarçados.
Voando ainda, ela finalmente conseguiu os ver. Eles eram bonitos e leves; leves como o ar. Eles a olhavam com um olhar de ternura. Como quem encontra uma pessoa amada. Ela se sentia muito bem entre eles. E desejou muito para sempre está perto deles.
Ela voou tanto, que se passaram dias, meses, anos; sem que percebesse. Realmente, ela estava imersa na eternidade e viva como uma luz que jamais se apaga. Estava na eternidade porque foi de lá que veio. A eternidade é sua terra natal e os anjos eram apenas seus melhores amigos.
Desenhando com traços delicados e finos, passou a desenhar sobre as vidas de algumas vidas. Ela melhora um detalhe ou outro. E sempre traçando linhas das quais as pessoas tinham fé, e com a fé de cada um ela tornava realidade. Na verdade, esta menininha era somente uma meio para tal. Já que a fé de cada pessoa é o mais importante para tornar muitos pensamentos em realidade.
Aos poucos, percebeu que sua vida era fazer aquilo que havia fazendo há alguns dias, meses e anos. Traçando linhas e desenhando pensamentos com pontos de fuga para o infinito. Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam.* No fundo, acreditava ser um deles, e realmente era.


*Clarice Lispector. A Hora da Estrela.

terça-feira, 30 de setembro de 2008


"As árvores cresciam como se não houvessem no mundo senão árvores crescendo.
Até que o sol escureceu,
gente se aproxinou, poços se multiplicaram e
os mosquitos saíram do coração das flores:

estava-se crescendo."

C.L.
Aprendendo a Viver
Imagens, página 37

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Ah, meu amor, não tenhas medo da carência:
ela é o nosso destino maior. O amor é tão mais fatal
do que eu havia pensado, o amor é tão inerente
quanto a própria carência, e nós somos garantidos
por uma necessidade que se renovará continuamente.
O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe
da graça - que se chama paixão."

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Ideal de vida








Ideal de vida
“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.


[...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.É pouco, é muito pouco.”


Clarice Lispector